Este casal de pessoas maravilhosas, convidou-me para redigir os textos das aulas que acontecem nesses encontros do grupo rePENSAR faz pARTE, às quartas-feiras. Os textos ficarão aqui para seu aprendizado.
Aula 1 – GRUPO de estudos “ rePENSAR faz pARTE”
De que modelos falamos?
O grupo trabalha sob estes três vieses, divididos em três eixos temáticos: 1) “Cultivando relacionamentos saudáveis” (de todos os tipos e tudo o que eles comportam), 2) “Repensando o que a gente já sabe” (desconstruindo e reconstruindo nossos saberes); 3) “A geração netflix e suas dores” (assuntos diversos sobre a atualidade) que ampliam e têm a intenção de estimular o pensar de um modo complexo e, ao mesmo tempo, simples.
A ideia primordial é criar um ambiente propício à expansão da consciência, de diversos conceitos, onde as pessoas possam trocar informações e contribuir, sem julgamentos ou críticas, o que atrapalha o caminho para seguir descobrindo sempre. Pretende-se, assim, ampliar certas noções em um ambiente em que a coragem de se expor seja valorizada, a fim de que se possa nomear o que se intui.
Trazendo a ideia de que nosso corpo é feito e moldado por toda a vida, onde nascem e morrem neurônios todo o tempo, a profa. Isis diz que o grupo está sendo criado para trazer o ambiente nutridor, “ambiente acolhedor”, como Winnicott nos aponta em sua teoria, de modo a ir burilando nosso modo de pensar e consequentemente agir.
Assim, dentro da temática dessa primeira aula, iniciou-se um debate sobre os modelos, partindo do pressuposto de que eles são importantes, não para nos paralisarmos dentro deles, nos reduzirmos a eles, mas porque podemos partir deles para a realidade. “Eu vivo, estou sendo, para expandir o modelo já estabelecido. Posso partir dele para expandir meus horizontes, pois um modelo não encerra a realidade, ela é sempre maior que ele”, afirma prof. Nathan.
O modelo científico é muito importante no sentido da comprovação das experiências, mas o perigo disso é a cristalização de conceitos. “O modelo científico é um recorte do real”, conforme disse a profa. Isis , e eu como professora de linguagem não poderia deixar de concordar, pois depende de fato da perspectiva pela qual se “vê”, se depreende algo. A ciência é delimitada pela linguagem que também a limita. Como costumo dizer: todo ponto de vista é a vista de um ponto, ou seja, quando me posiciono sobre qualquer assunto ocupo um lugar, o que significa estabelecer um recorte. Além disso, a linguagem também dá margem a múltiplas interpretações, pois a mesma palavra retirada do contexto enunciativo original, segundo Bakhtin, não é a mesma em outro, e, muitas vezes, a linguagem não abarca a totalidade. A riqueza do grupo será trazer a experiência de cada um para o debate, pois o nosso aparato de compreensão da realidade é único, singular e precisa ser respeitado.
Embora outros já houvessem pensado, como Arthur Schopenhauer, por exemplo, foi partir do que Freud experienciou, que ele desenhou um modelo e sistematizou a proposta de psicanálise, trazendo a ideia de inconsciente. Este paradigma freudiano veio quebrar a questão da dualidade com a introdução do inconsciente, que ainda nos é um grande desconhecido.
Conversou-se sobre o modelo dual de pensar estar imbricado em toda nossa cultura, como podemos ver nas questões de certo e errado, moral e não moral, bem e mal, o que nos lembra o texto de Cecília Meirelles: “Ou isto ou aquilo”, no qual demonstra a irreconciliável dualidade a que nós nos impomos, muitas vezes, ou é imposta a nós pela vida “Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo... e vivo escolhendo o dia inteiro!” [...] “Mas não consegui entender ainda qual é melhor: se é isto ou aquilo...”. Toda dualidade, traz a ideia de sim ou não, e toda polaridade está no problema da rigidez, da não tolerância. Se sou isso, não posso ser aquilo. Por que não?
A ideia de modelo utilizada, neste primeiro encontro, se origina em Bion. Este autor teoriza que se pode partir de k (knowledge) − o modelo de conhecimento já estabelecido, conhecimento sobre a própria experiência −, que seria o trampolim para chegar à realidade última, que ele chama de O, que é o nível mais profundo de quem somos, que não pode ser totalmente conhecido pela mente consciente, mas experienciado, é o meu “estar sendo”, também conhecido como o “zero” da experiência, que nos permite associações mais óbvias com o nada, ou com a ausência, o que nos leva a pensar em frustração e sua importância para o pensamento. Ou pode ser associado à origem e à potência aristotélica, no sentido de um vir a ser. Daí, podemos trazer um novo modelo que ultrapassa todo o conhecimento. “Conforme, vou expandindo de sacada em sacada, de modelo em modelo, de quebra de paradigma e quebra de paradigma, de glória em glória, vamos nos aproximando do Inominado”, conforme disse o prof. Nathan.
A fala emblemática, usada pela prof. Isis, por exemplo, para explicar que as ciências pretendem que sejamos estes seres fragmentados e não complexos, como pressupõe a teoria de Edgard Morin, foi a de que um professor costuma dizer aos alunos: “Fecha o caderno de português que agora é aula de matemática”, como se fôssemos seres compartimentados. Percebe-se então o quanto se reproduz na sociedade, no ambiente escolar, em casa, constantemente essa ideia de exclusão, o que pode estar, às avessas, no bojo do raciocínio da construção de um ambiente inclusivo que tanto procuramos. Talvez, portanto, a inclusão cobiçada por nós, possa ser alcançada por uma mudança de paradigma, mudança do “ponto”, do “lugar”, de onde podemos então vislumbrar novos horizontes.
Este primeiro encontro transcorreu com muita fluidez, com a participação muito forte de todos, com colocações riquíssimas. Assim, ele foi cercado de experiências dos presentes e grande interesse geral. Finalmente, só podemos dizer que foi maravilhoso.
Que tal você estar também no próximo encontro?
Pode trazer seu suco ou vinho e sentar. Bem-vindos todos!
Janice Mansur
Dia 13 maio 2021
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