Antigo texto de Artur da Távola - ERROS

 

 

ECOS do cansaço

 

se lembra de quando deslizávamos pelos despenhadeiros

assombrados de medo de medo medo  medo

mas íamos assim mesmo?

o receio de hoje não é mais aquele do cheiro de loló

ou de pão dormido, de correr pela Alameda

quase nus de vestido

é cheiro de menopausa  e climatério

é o receio de um cansaço absurdo e inominado

de mormaço nos beijos que não são dados

de abraços que não nos presenteiam

o cansaço que cansaço que cansaço

nos esfarela o riso

nos dilacera o prato

a fome que fome que fome

do que mais que a comida

nos vicia

do que mais que a comida

nos consome

 

2 nov 2021