Sobre montanhismo, escalada e revisão como uma das partes mais importantes do trabalho de publicação de um livro...





Etapas da Produção

 

 e Editoração de um livro


Davi Marski
Bom… para as pessoas que não sabem, eu escrevi um livro sobre “Escalada e trekking em alta montanha” que pretende ser uma espécie de “Freedom of The Hills” em Português, com foco na escalada e caminhada no ambiente de alta montanha (como o próprio título já diz).
Comecei a escrever esse livro uns 3 anos atrás quando fui escrever uma resposta para uma dúvida sobre aclimatação, que surgiu na lista do HangOn.
Quando me dei conta eu já tinha escrito umas 12 páginas no ‘word’ sobre o assunto… claro que nem enviei a resposta daquele jeito, mas surgiu naquele momento a idéia de escrever sobre o assunto.
Escrever (um livro) no Brasil é algo complicado… o principal motivo é que não há uma “massa crítica” de leitores para o material produzido. Nem preciso dizer que a melhor revista de escalada já produzida no Brasil (a HeadWall) simplesmente não foi pra frente pois não era viável financeiramente.
Bom… vou escrever sobre as etapas de produção de um livro. As etapas a seguir independem se é uma produção própria e independente ou se é vinculada a uma editora.

O conteúdo

Tudo começa com a parte mais importante, que é o conteúdo em si do livro. Ou seja, é o conteúdo que irá determinar se o livro “é bom” ou “se é ruim”.
Depois de todo o texto digitado, produzido, é necessário que o próprio autor faça a “lição de casa” e faça as primeiras revisões, adequações, etc…   minha primeira versão tinha quase 700 páginas. Com o apoio de amigos e críticos (no bom sentido) fui simplesmente tesourando vários sub-capítulos, removendo ilustrações, etc… e o meu livro ficou com o tamanho final : 408 páginas em tamanho A5 (com espaço simples e fonte tipográfica tamanho 11).
A quantidade de páginas de um livro é algo “importante” pois o custo de produção é diretamente proporcional à tiragem e ao número de páginas (ainda mais se houver conteúdo colorido).
O “limite” para uma encadernação convencional é de cerca de 400 páginas (usando papel 75g/m2). Ou seja, se eu não tivesse reduzido o número de páginas, não seria possível encadernar usando o método convencional “Hot melt” e seria necessário “costurar” a lombada (ou usar papel de menor gramatura).
Meu livro foi revisado várias vezes e por diferentes pessoas, e mesmo assim é capaz que existam erros ortográficos ou contextuais.

A editora ou ainda sobre os “custos” de produção.

Pois bem, essa não é uma etapa obrigatória, mas facilita muita a vida do autor pois se ele estiver publicando seu livro através de uma editora, ela se encarrega de todas as etapas a seguir, se for uma produção independente, o autor geralmente precisa ir atrás dos profissionais para fazerem as próximas etapas (que não são triviais).
As editoras em geral visam lucro. Ou seja, se o seu livro é de poesia ou de escalada (risos) isso significa que não há público consumidor que justifique o “investimento” de uma editora em cima da sua obra.
Uma tiragem pequena é da ordem de 1000 exemplares, e isso não é pouca coisa… e com certeza, se você está lendo este texto, certamente você não é nenhum “Paulo Coelho”… 😉
Uma editora que recomendaria é a Montanhar : www.montanhar.com.br/
Para revisão gostaria de recomendar o pessoal da : www.formasconsultoria.com/
e no segmento da escalada, o pessoal da www.publit.com.br  (eles se encarregam de todas as etapas !)
Eu não usei os serviços deles e vou ser sincero, me arrependi (pois eu mesmo corri atrás das próximas etapas, e elas não são fáceis e demandam um tempo e uma curva de aprendizado realmente grandes !).
O meu livro é uma tiragem realmente pequena (fico com vergonha de falar qual foi a minha tiragem, mas antecipo que ela é mais do que 350 exemplares e menor do que 1000 exemplares) pois o público consumidor é pífio no Brasil.
Estimo em cerca de 10.000 escaladores entre os diversos segmentos, e sabe-se lá quantos trekkers que potencialmente comprariam o livro.
Nenhuma editora interessou-se em publicar o livro.
A alternativa que encontrei foi seguir a de outros livros no mesmo segmento como o livro doFlávio Daflon e até mesmo o guia do Sérgio Tartari, ou seja, eu vendi ‘cotas de publicidade’ para serem inseridas propagandas no corpo do livro.
Entrei em contato com mais de 50 empresas, algumas poucas deram-se ao trabalho de responder aos meus contatos, outras elogiaram a iniciativa mas não puderam/quiseram ajudar na publicação e por fim, algumas empresas e marcas acreditaram no meu trabalho.
As empresas que apoiaram financeiramente a impressão do livro foram :
Através do apoio financeiro destas empresas foi possível levantar quase 55% do custo de impressão do livro. O restante, como eu estou publicando de forma independente, foi bancado do meu bolso (ui.. essa doeu !).

A revisão e a diagramação

Depois de tudo escrito, vem uma etapa super importante que é a revisão. A revisão ocorre em duas frente : uma técnica, onde outras pessoas capacitadas vão ver se você não escreveu nenhuma bobagem, e outra revisão que busca encontrar erros de ortografia, erros de construção verbal, etc…  mesmo assim é relativamente comum o livro ser impresso com eventuais erros…
Depois do texto revistado, as alterações são feitas e acertadas, e vem uma das partes mais importantes na produção de um livro, que é a editoração.
Na editoração serão definidos o posicionamento das ilustrações, o sumário, numeração de páginas, enfim.. a identidade visual do livro.
O software mais utilizado para diagramação é o Adobe InDesign.

A capa

Um livro muitas vezes não é vendido pelo seu conteúdo e sim pela capa. A produção da capa de um livro é determinante na tomada de decisão do leitor, e mesmo que não fosse, espera-se que a capa seja condizente com o conteúdo do livro em si, etc…
A capa pode ser em diversos tipos de papel, com diversos tipos de acabamento. Eu optei por produzir uma capa em papel triplex 250g/m2 c0m acabamento em laminação UV fosca e “orelhas (que são aquelas dobras na parte interna da capa e contra-capa).
A capa também deve ser submetida à analise de profissionais do ramo artístico.
A capa do meu livro foi elaborado por um artista plástico, o Dalmo Peres, e uma prévia dela pode ser vista no “boneco” :
ou a versão feita no software “Corel Draw” :

O registro ISBN, Ficha Catalográfica, CDD e outros

Toda e qualquer obra literária deve ser registrada na Biblioteca Nacional e receber um código conhecido como O ISBN – International Standard Book Number – é um sistema internacional padronizado que identifica numericamente os livros segundo o título, o autor, o país, a editora, individualizando-os inclusive por edição.
O registro ISBN pode ser visto no meu livro na contra-capa (ele tem um lugar certo para ser colocado). no lado inferior direito (o tal código de barras).
A ficha catalográfica vai nas primeiras páginas do livro, assim como CDD, e são elas que facilitam o trabalho do bibliotecário ao catalogar o seu livro.
Todos os livros publicados no Brasil devem conter a Catalogação na Publicação, de acordo com o padrão internacional estabelecido em 1976 (Cataloging-in-Publication – CIP) e com o artigo 6 do Capítulo 3 da Lei do Livro.
A Catalogação na Publicação reúne num único lugar, geralmente no verso da página de rosto, dados pertinentes à obra, como nome do autor, editora, ano de publicação, ISBN e assunto.
Geralmente a editora se encarrega deste assunto.

A gráfica

Se a tiragem for realmente ínfima, da ordem de 200 ou 300 exemplares, pode-se optar por “gráficas expressas” que fazem a impressão do livro em formato digital, ou seja, usam impressoras digitais de alta qualidade para imprimir o livro.
As gráficas digitais conseguem imprimir um livro diretamente a partir de um original formatado no “word”.
Se a tiragem exceder uns 300 exemplares já passa a ser interessante usar gráficas convencionais.
Existem dois tipos de gráficas : as grandes (grandes mesmo)  e as pequenas (ou médias).
As realmente grandes são capazes de imprimir diretamente no papel usando sistemas digitais, sem que seja necessário fazer etapas “intermediárias” como impressão de fotolitos, gravação de chapas, etc… O problema é que essas gráficas só trabalham com tiragens realmente grandes (uns 10.000 exemplares ou mais).
As gráficas comuns usam o seguinte método : são montados “cadernos” em folhas de tamanho A1 que possuem 8 folhas em cada caderno. Para imprimir em uma impressora “offset” é necessário utilizar uma chapa metálica, que é sensibilizada através de um fotolito…
Os “cadernos” com 8 páginas do livro são impressas a uma velocidade espantosa e depois que a tinta seca, o técnico troca a “chapa metálica”, recalibra a máquina, e recoloca os cadernos para imprimir o outro lado: cada caderno tem o lado “frente e verso” impresso.
O papel normalmente é offset alcalino 75g/m2 (que não fica amarelado com o passar do tempo).  Livros mais sofisticados (e caros) podem usar papel tipo “pólen”, que é aquele papel amarelinho, meio bege e super agradável ao toque.
Etapa da Editoração, Diagramação, etc. enfim..
Os papeis tipo “offset 75g/m2” utilizados para imprimir os cadernos na gráfica
Um exemplo de um fotolito já pronto para ser utilizado na gravação das chapas do offset. Cada chapa pode imprimir até 16 páginas (tamanho A0).
Exemplo de chapas no tamanho A1 já gravadas a partir do fotolito
Corte das folhas de papel que são compradas em tamanho A0 para transformar em tamanho A1
Impressão dos cadernos (com 8 páginas cada) em máquina de Offset
Os cadernos após a impressão…  preciso dizer que cada caderno é impresso nos dois lados, e depois o caderno é dobrado (em uma máquina de dobra) e em seguida vai para a máquina que faz o acabamento (colagem das folhas e colagem da capa).
(...)
Depois que todo o livro está impresso em cadernos no tamanho A1, uma outra máquina realiza uma sequência de dobras no caderno, montando as páginas já como será de forma final no livro.
Uma guilhotinha corta os excessos nas bordas laterais (sangria).
O conjunto então é levado para outra máquina que faz “sulcos” ou “rasgos” (na verdade, uma pequena fresa) na lombada e a máquina aplica uma cola especial (hot melt) e fixa a capa (já com as devidas dobras) no “miolo” do livro.
Algumas dicas para impressão digital em pequenas tiragens :

A distribuição e a venda

Essa é a última etapa, que é colocar a venda o produto final.
A grandes editoras possuem canais de distribuição já com as grandes livrarias.
Claro que para livros com tiragem pequena dificilmente uma livraria terá interesse em expor seu livro. A saída é colocar a venda em lojas especializadas ou através da internet.
Quando o livro é feito através de uma grande editora, o autor dificilmente fica com mais de 25% do valor do livro. Lembre-se que a maior parte do custo de um livro é justamente a impressão dele. De forma genérica se um livro custa R$ 10,00, cerca de R$ 3,50 ficam com a livraria, cerca de R$ 4,50 com a editora (estou incluindo os serviços de impressão, editoração, diagramação, fotolitagem, etc…) e apenas cerca de R$ 2,00 com o autor do livro em si. Estou sendo extremamente otima com esta margem de “lucro” de 20% para o autor. A realidade pode (e é) bem diferente…

O lançamento do livro

Essa é virtualmente a última etapa.. o livro já foi entregue para as livrarias (ou o sistema de venda pela internet já está pronto), os exemplares enviados para todos que contribuiram par ao livro já foram entregues (com cartas de agradecimento)…
Esse é o  momento do autor : normalmente o lançamento acontece em alguma livraria e paralelo a ela acontece uma “noite” de autógrafos onde exemplares do livro são vendidos,  autografados, etc…
Em uma palavra : este é o momento de festejar !
Desejo boa sorte e parabéns a todos os autores, editores, revisores, produtores, diagramadores, técnicos de impressão, etc. enfim.. a todos que dão a sua parcela de contribuição na produçãso dos livros, sejam eles de quais temas forem!
http://www.blog.marski.org/?p=1521



Davi Marski (In Memorian) Era guia de montanha e escalador em rocha e alta montanha (principalmente nos Andes) desde 1990. Além de guia de expedições comerciais, ele ministrava cursos de escalada em rocha. Segundo ele mesmo "sou apenas mais um cara que ama sentir o vento frio que desce das montanhas". Davi levava uma vida simples no interior de São Paulo e esforçava-se por poder estar e viver nas montanhas. Davi nos deixou no dia 19 de Novembro de 2014.

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