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 “Um recorte do quotidiano ou dos “bastidores” da sociedade, com cenas e cenários, modus vivendi e linguagem coloquial bem brasileira são aspectos que poderiam sintetizar os Contos de Bastidores, de Janice Brito Mansur. São trinta e quatro narrativas breves ─ muitas delas apresentando personagens femininas ─ que, a partir dos temas da infância e da maternidade dos primeiros contos (“Vidrinhos”, “Imprevisibilidade”), espraiam-se pela análise das relações humanas cruzando o lírico, o trágico, o insólito, o humor e, por vezes, a ironia na abordagem do dia a dia.

 [...]

 O hibridismo de gênero, com a infiltração no fio narrativo ora do lírico (“Chão escaldante, pensamentos Contos de bastidores azuis”), do trágico (“Obra”) ou do dramático (textos em que predomina a fala e a ação de personagens), constitui outra marca do conto contemporâneo que observo neste livro de estreia de Janice Mansur. Lembro a lição de Manuel Longares em Extravíos (1999), sobre os contos a partir do século XX: “el cuento de hoy tien la vocación de romper moldes, ya que muchos de sus autores lo consideran como um laboratorio” (“o conto de hoje tem a vocação de romper moldes, já que muitos de seus autores o consideram como um laboratório”).

 Nos contos contemporâneos de autoria feminina ─ e lembro que o bastidor remete a um ofício considerado feminino, o bordar ─ , sobretudo, é possível detectar  estratégias de recurso à memória de situações, de cenas do quotidiano, de retratos do núcleo familiar (mãe, avó/ avô, filha/filho, neta/neto) que inserem as mulheres tanto como narradoras quanto como protagonistas de suas vivências numa linha de subjetividade e, ao mesmo tempo, de hermenêutica do cotidiano social por um ângulo muitas vezes não hegemônico.

 A opção de trabalhar com o gênero discursivo “conto”, apresentando fragmentos da realidade, permite a Janice Mansur transitar entre a narratividade, o discurso poético e o espaço quotidiano da crônica, despertando tensão e expectativa, bem como a capacidade de adesão de um leitor disponível para o trabalho de expansão dos sentidos indiciados pelo texto.”

 (Trechos do prefácio da Profa. Dra. Simone Caputo Gomes).

 

Gratidão!

Janice Mansur

 


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